Estava eu tomando solitariamente um café em um
shopping quando observei uma mesa em frente a uma lagoa artificial, lagoa esta,
construída na área de lazer do empreendimento. Não pensei duas vezes e para lá
eu fui. Assentei meu corpo relaxado na cadeira e coloquei o copo de café sobre
a mesa limpa. Após essa grande atividade física comecei a observar mais
atentamente aquela lagoa artificial e pude ver que dentro dela havia alguns peixes
de coloração alaranjado. Estudei cada trajeto que aqueles pequenos seres de
cores vibrantes faziam e percebi que eles não se cansavam de realizar o mesmo
caminho várias vezes por minuto. Ali naquela pequena lagoa eles estavam
totalmente seguros. Não havia predadores. Eles tinham alimentação controlada,
água limpa e admiradores o dia todo. Admiradores observadores, distraídos e até
mesmo aqueles que pensariam profundamente sobre a maçante e segura rotina
daqueles pequenos peixes. Comecei a pensar que eles fariam o mesmo trajeto
utilizando suas nadadeiras freneticamente dia após dia até chegar o fim de suas
simplistas vidas. Esse pensamento me causou aflição e me fez refletir sobre
várias coisas que estão ao meu redor. Aqueles peixes só conheciam aquela lagoa.
Aquele pequeno território geográfico. E se eles tivessem a oportunidade de
conhecer um rio e sua feroz correnteza, uma lagoa de verdade e um mar de
infinitas possibilidades. Seriam eles mais felizes? Mesmo estando a poucos
centímetros de terríveis predadores? Possivelmente durariam menos, mas poderiam
trocar a ração oferecida pelos funcionários do shopping por qualquer banquete
desejado, nadar em correntes quentes e em correntes frias, não teriam
admiradores convencionais, mas os mais excêntricos possíveis. Seriam eles
peixes sortudos ou peixes condenados a uma crueldade sem tamanho? Mas como os
peixes podem se sentir condenados se eles só conhecem aquela pequena lagoa?
Para aqueles peixes aquela lagoa é o mundo. Os peixes só irão condenar aquela
lagoa quando conhecerem o que transcende a barreira de concreto pintado de
azul. Quantas vezes em algumas situações e momentos em nossas vidas pensamos
conhecer o mundo, suas leis e suas verdades, mas nos esquecemos de que em nossa
volta, assim como aqueles peixes tinham aquela barreira de concreto, nós temos
várias barreiras impostas por mim, por você e pela sociedade. Barreiras que nos
limitam. Barreiras que nos aprisionam. Barreiras que nos tiram do verdadeiro
caminho de nossas vidas. Ousando quebrar essas barreiras você poderá encontrar
assustadores predadores. Poderá durar até menos, em contrapartida poderá levar
a vida que quiser, a vida que de verdade sentir. A nossa ignorância nos
transformou em pequenos peixes de uma lagoa artificial de um shopping.
Estaríamos nós nos condenando a crueldade?
... Mari... mandou bem!
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